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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Síria: O começo ou o fim de uma nação?


É impossível ficar indiferente diante dos conflitos que vem ocorrendo na Síria há quase dois anos, e que já causou tantas mortes naquela região tão bela e com tamanho valor histórico, que é a Síria. Todas estas mortes, em um período de tempo bastante prolongado, faz-me pensar não somente na questão política, mas também em outras reivindicações históricas do povo sírio, que me faz pensar: Este é o começo ou o fim de uma grande nação?
O território sírio, desde sua independência, possui uma divisão multicultural interessantíssima, que mostra a diversidade do povo sírio e isto se torna bastante evidente quando olhamos mapas antigos e analisamos hoje a distribuição populacional síria. Por outro lado, esta mesma diversidade parece fomentar as revoltas na Síria, tornando estas as mais longas da Primavera Árabe, pois me parece que falta um norte ideológico, como houve nas demais revoltas, onde este era apenas a democracia, diferente do caso sírio, onde as questões étnicas, rivalidades internas, também garantiram certo espaço na revolução.
É possível notar que os principais conflitos têm ocorrido nas regiões de fronteira, principalmente em Aleppo e na região do “Curdistão-Sírio”, o que reforça o que eu havia dito: não é apenas uma questão de reivindicações democráticas, mas também cultural.
Os curdos, todos sabem, possuem pretensões territoriais polêmicas no Oriente Médio, por concentrarem em seu território reivindicado, a maior parte das jazidas de petróleo na porção norte do oriente médio, o que torna difícil a reivindicação ser acatada, em uma região aonde o petróleo é o principal propulsor da economia dos países locais. No caso sírio, por exemplo, muito embora haja mapas que pretendam abranger toda a região do antigo Estado de Aleppo, a mais coerente é a reivindicação sobre a margem oriental do Rio Eufrates, que é onde a maior parte dos curdos permanece residindo hoje na Síria.
Quanto a Aleppo, esta sempre teve certo atrito histórico com Damasco, o que é completamente justificável, pois Aleppo é a maior cidade da Síria. Além deste fato, por encontrar-se mais próxima da fronteira com a Turquia, as influências deste país na Síria sempre foram maiores e, considerando o grau de evolução da democracia turca, este pode ter sido o fator que estimulou a população de Aleppo à causa, diferentemente da capital, aonde, embora haja conflitos também nesta região, os governistas têm ainda certo apoio, que não possuem no norte.
O cenário sírio hoje é de três nações: Uma nação ao sul, que apesar dos conflitos, mantêm-se fiel a Bashar Al-Assad e talvez, a concessão de algumas liberdades, como foi feito em outros países árabes, colocaria fim aos conflitos atuais; outra nação ao norte, que parece-me que não quer aceitar nenhuma alternativa a não ser a destituição do governo atual; por fim, uma nação bastante conhecida de todos nós, o Curdistão, cuja reivindicação é mais étnica do que política.
Talvez a solução para os Sírios hoje não seja necessariamente a democracia, pois a concessão da democracia ao povo sírio, sem pensar nos impactos que isto pode acarretar, seria simplesmente um desastre. Creio que a democracia seja um direito de todos os povos, pois todos os povos tem o direito de decidir sobre seus destinos, mas, por outro lado, a democracia estimula o ressurgimento de velhas questões e até pode estimular a intolerância entre grupos diferentes, o que no caso sírio, pode ser algo bastante perigoso. Por este motivo, penso que, apenas a democracia não é o suficiente, é preciso pensar numa Síria Federal, o que talvez possa parecer algo distante para alguns, mas que a meu ver, é o único caminho para se permitir a existência de uma Síria forte e unida por certo tempo.
Infelizmente, sei que meu comentário não mudará a mentalidade daqueles que estão combatendo em favor do governo ou da democracia e simplesmente temo que o resultado final deste conflito seja uma série de separatismos, como ocorreu nos Balcãs, mas por outro lado, sei que o povo sírio tem vontade de preservar seu país e que talvez um bom diálogo, em que se deixe de lado as desavenças históricas políticas e das regiões, e cada uma das partes ceda um pouco, floresceria deste cenário, a verdadeira democracia, com diálogo e paz.
( Por: GUSTAVO ESSE
Mantenedor das leis defensoras do grupo de direitos humanos sobre tortura e Guerra Fria)

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